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CLAUDINEI ROBERTO – 2015 – TEXTO DAS PÁGS. 22/23 DO CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO ‘AUDÁCIA CONCRETA – AS OBRAS DE LUIZ SACILOTTO’, MUSEU OSCAR NIEMEYER, CURITIBA

Razão e emoção

A razão e a emoção são normalmente colocadas em campos opostos, esferas distintas de um caráter, de uma personalidade. A história da arte é pródiga em confirmar essa oposição. Exemplo dessa situação foi o debate presente na escola francesa de pintura que no século XVIII foi notável ao apresentar a disputa entre os adeptos da razão extraída de modelos clássicos e os sensualistas que se opunham ao moralismo e à rigidez formais exigidos pelos racionalistas. Entre nós a oposição se explicita em querelas passadas entre acadêmicos e modernistas, figurativos e abstratos, ou concretos e neo-concretos.

Essa dicotomia não se verifica na obra de Luiz Sacilotto, aqui a razão pavimenta o caminho da emoção e do encantamento.

Sua obra é um elogio à nossa inteligência e sensibilidade.

As obras de arte vivem, também, dos diálogos que forem capazes de formular com quem seja capaz de se aproximar delas – seus interlocutores. Esse colóquio, que se dá no silêncio e na solidão, é um predicado próprio a elas e é geralmente estabelecido num primeiro e epidérmico encontro, quando, num jogo engenhoso e sedutor, a obra captura nossa atenção para formular questões nascidas no interior delas mesmas.

Nesse interessante contato do objeto de arte com seu eventual fruidor surgem inquietações profícuas, ou não, que no seu melhor resultado pavimentam o caminho das descobertas, epifanias, iluminações. Fazendo isso as obras acabam por solicitar de nós o que temos de melhor, ou, pelo contrário, explicitam o vazio alienado de uma condição que, esperamos, não seja perpétua. Através das respostas que oferecemos ao inquérito poético que a obra propõe revelamos muito do que somos; todas nossas respostas são eloquentes, principalmente aquelas não proferidas.

No cubo branco de uma galeria ou nos salões dos museus a obra de arte adquire uma camada extra de significado, espécie de autonomia que ali no espaço organizado nos dá a impressão de coisa que sempre existiu, surgida à revelia da vontade dos homens ou apesar dela e autonomamente constituída.

É a linguagem artística fundando sua realidade por meio de vocabulários e códigos que lhe dão sentidos. Se for verdade que diante de certas obras somos instados a buscar respostas para os enigmas que elas propõem, isto se deve aos artistas, seus realizadores, que as articulam para que isto seja possível e sugerem, assim, uma crença na humana capacidade de lidar com os problemas que a Beleza coloca. É o que nos diz a obra de Luiz

Sacilotto, um desses artistas que por meio do seu trabalho elogia a inteligência de todos, estimulando-a com formas que ele inventa, articula e revela, projetando e prospectando espaços e cores de cuja existência ainda não suspeitávamos. E ele faz de tal maneira que passamos pela experiência do contato com sua obra certos de que dela participamos e nos subtraímos dali com os sentidos mais aguçados, mais atentos ao mundo que nos cerca.

Esta mostra não seria possível sem o envolvimento comprometido daqueles que a apoiam, a boa vontade e o zelo de colecionadores, galerias, do Museu Oscar Niemeyer e do (s) mantenedor (es) do legado do grande artista a quem somos imensamente gratos.

Uma última observação: por ocasião das pesquisas que levaram à confecção desse texto tive a oportunidade de contatar algumas pessoas com quem Sacilotto privou de alguma intimidade – algumas delas eram técnicos envolvidos nas montagens de seus trabalhos, como a conservadora Fátima Gomes do Museu Afro Brasil, que quando o conheceu trabalhava na Pinacoteca do Estado de São Paulo, e outros artistas, como Emanoel Araujo.

Todos foram unânimes em mencionar a humanidade e simpatia de um homem de trato fácil. A importância da obra de Luiz Sacilotto é também verificada pelos testemunhos de críticos, artistas e historiadores como Mário Pedrosa, Décio Pignatari, Enock Sacramento, Aracy Amaral, Ana Maria Belluzzo, Hércules Barsotti, Haroldo de Campos, Theon Spanudis, Alfredo Volpi, Jacob Klintowitz e outros.