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IVO ZANINI – FOLHA DE SÃO PAULO – 1982

Sacilotto ativa o geométrico

Está de volta a arte concreta, o geometrismo, o construtivismo. Não que essa tendência tenha desaparecido. Mas seu reaparecimento pelas obras de um Luiz Sacilotto é sempre dado a ser considerado.

As três dezenas de pinturas que apresenta agora na Cosme Velho (al. Lorena, 1579) dão conta que o artista de Santo André segue sendo um discípulo de estrita fé nos sábios exemplos deixados por Mondrian e seus continuadores – Van Doesburg, Malevitch, Pevsner, Gabo, Torres Garcia e outros.

Na sobriedade de suas cores e em especial nos ritmos cinéticos que impõe com grande rigor técnico em quase todos os quadros, Sacilotto atinge, talvez, o clímax de sua produção. Uma produção equilibrada ao longo de quase 30 anos de dedicação ao intrincado/fragmentado mundo da concepção de elementos simetricamente criados. Se fosse possível juntar todas as pinturas expostas num espaço único o resultado seria um gigantesco festival de ilusão ótica, em que quadrados, retângulos, linhas convexas, retas e curvas se harmonizam e se acasalam.

Mas a arte de Sacilotto atinge outros pontos de alta qualificação. Porque impõe um ritmo por vezes vertiginoso nos minúsculos traçados que tomam conta das obras, além de utilizar os espaços com severa organicidade. Os seus trabalhos revelam de fato um artista voltado unicamente para a busca da emoção através das formas nada aquecidas do geométrico. Justamente lutando contra fator tão adverso, Sacilotto consegue (e como ele poucos construtivistas do tipo Mavigner, Geraldo de Barros, Fiaminghi, Barsotti, Willys de Castro, Weissmann, Amilcar de Castro, Maurício Nogueira Lima e Judith Lauand) resultados surpreendentes.

A presente mostra do artista é uma espécie de reaparição após dois anos, quando ele realizou retrospectiva (juntamente com Fiaminghi) no Museu de Arte Moderna de São Paulo. São trabalhos dos últimos cinco anos, com predomínio de produção recente, pontificando que o autor continua evoluindo, sintetizando com maestria a sua criatividade em torno de vibrações tensões e ilusões óticas.