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JACOB KLINTOWITZ – JORNAL DA TARDE – 07/05/1988

Novos signos para uma velha obsessão

Há mais de 40 anos Luiz Sacilotto pesquisa e aprofunda uma única idéia. Ele discute a realidade da percepção e a sua possibilidade de ser objetiva. Junto com esta idéia central de seu trabalho, quase como decorrência natural, Sacilotto coloca em dúvida a natureza do objetivo pintado e faz malabarismo com o tema da pintura. Esta exposição da galeria Millan reafirma a posição do artista e acrescenta alguns novos signos nesta caminhada cíclica do artista.

Certamente cabe o mérito histórico a Luiz Sacilotto de ser um dos concretistas de primeira hora. Ele esteve no grupo concretista com uma performance impecável. Modesto, discreto, afastado de promoções, desligado de carreira, Sacilotto esteve envolvido apenas no fazer artístico. A contemplação dos trabalhos antigos seus aponta para uma tendência geométrica construtiva. Nele, a geometria foi o desenvolvimento de sua pintura a partir de uma lógica interna. Ele descobriu o peso dos objetos, a densidade das formas, relacionou-as de maneira objetiva, colocou-as em planos e, finalmente estes planos e pesos assumiram vida própria e se tornaram o assunto e o tema de seu trabalho. De certa maneira, de uma forma inteiramente pessoal e num trajeto modesto, o artista refez o caminho de Cèzanne.

Luiz Sacilotto serializa as suas formas através de repetições e reincidências, discutindo com seu público a natureza da forma registrada, seja uma figura geométrica, seja uma linha, como poderia ser, sem alterar o princípio básico, uma imagem figurativa. Neste aspecto, o artista coloca a dúvida sobre a natureza do objeto retratado justamente para afirmar o primado da consciência sobre a expectativa sensual.

Há nesta mostra, alguns signos sutis de que Sacilotto se vale. Um deles é a repetição da forma em outro tom, com outro valor formal, com densidade diferenciada. Desta maneira, ele cria a forma e a sombra da forma. Virtualidade do existente que, por sua vez, tem a sua existência posta em dúvida. O artista aproxima-se, portanto, de seu assunto fundamental que é justamente a discussão da ilusão do olhar e da subjetividade da percepção.

A arte concreta, pela justeza de formas e limpeza da composição, aproxima-se muito da base do desenho industrial. Ou, como no caso de Sacilotto, procura colocar a imagem em dúvida, trabalha com fundo e forma, invoca as regras básicas da percepção humana para, de uma maneira sutil, levantar dúvidas sobre a veracidade do que se está vendo. Ilusão ou realidade? Ao final, como hoje a ilusão e todas as formas de psiquismo são entendidas igualmente como reais, tudo resulta no mesmo. Mas fica, para o público, a possibilidade de distinguir os seus estados oníricos de seus estados concretos, a ilusão perceptiva da realidade objetiva, a visão do objeto e o ser do sonho.