Que viagem emocionante, percorrer este sumaríssimo panorama da obra pictórica de Luiz Sacilotto com 13 quadros! Ordenados cronologicamente, eles desenham a trajetória coerente e laboriosa, rumo à construção de uma identidade artística singular. Evidenciam também, “a paciência que tudo vence” no dizer de Tereza de Ávila, a mapear ao longo de uma vida inteira, como uma abelha, polegada por polegada, o território sagrado da identidade. Identidade que não admite ser forjada a partir de um projeto egóico, mas que é revelada paulatinamente pela “voz de Apolo”, isto é pela infinita sabedoria interior, aos que a essa aventura se entregam com inocência.
Essa é a mesma jornada mítica, reeditada, da saga cultural do Ocidente. Descarnado e simplificado as imagens da Criação – homem e natureza – desvenda, num primeiro movimento, o arcabouço das formas geométricas*, matriz conceitual da Forma platônica, fundamento da filosofia e da ciência ocidental. Apropriando-se das formas primordiais, recria, num movimento recíproco, uma nova geometria inteiramente estribada na abstração pura das seriações aritméticas. E assim constrói os ritmos, os movimentos, as harmonias, as vibrações ópticas e, à maneira de Pitágoras, deságua em legítima religiosidade apolínea.
Surpreendente analogia com o itinerário de outro artista operário e autodidata, Mestre Alfredo Volpi! Com uma notável diferença, entretanto. No panteão deste último há um altar dedicado à sensualidade táctil de Eros. Em Sacilotto não; há somente o Logos.
. No primeiro quadro deste panorama, realizado em 1947, retrato de caráter ainda expressionista da musa e futura esposa Helena, o fundo se cristaliza em formas geométricas irregulares. Na blusa, já detectamos o embrião da forma arquetípica dos cortes e dobraduras de lâminas que posteriormente utilizou largamente em suas esculturas. Este mesmo pattern emerge lapidar já no quadro de 1952, reproduzido no mês de Junho e reaparece numa interpretação metafísica, no quadro de 1985, reproduzido no mês de Dezembro.