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RADHA ABRAMO – FOLHA DE SÃO PAULO (ILUSTRADA) 29/09/1979

Luiz Sacilotto, um astro do Panorama

Comemorando trinta anos da data da sua inauguração – 1949 – o Museu de Arte Moderna de São Paulo, instituição cultural fundamentalmente ligada às artes visuais e que deu origem à polêmica Bienal de São Paulo, abriu na última quinta-feira o Panorama de Pintura de 1979.

A versão da pintura atual do MAM, que poderia obviamente ser a mesma de um júri que selecionasse artistas inscritos livremente no Panorama (porque a maioria faz parte da classe que exerce os dirigismos de toda sorte), oferece porém um quadro convincente dos pintores e das tendências artísticas atuais apesar de muitos artistas terem recusado o convite. Naturalmente a exposição do MAM tento pela situação geográfica como pelas obras do Panorama oferece uma visão de confronto artístico ao público que irá à Bienal, sua vizinha (inaugura-se dia 3 próximo) mostrando as vertentes estéticas em uso e consumo no País há trinta anos.

O Panorama exemplarmente montado (como sempre são as exposições do MAM), além de propiciar a leitura correta e harmoniosa das obras, exibe exemplares belíssimos de muitos artistas. Mas a nota especial da mostra (ela justifica a sua própria organização) é Sacilotto. Diante do trabalho desse artista, as teorias e as manipulações técnicas sucumbem por completo: a idéia da criação está impressa nas três excelentes obras expostas na parede frontal lateral esquerda do MAM. A sensibilidade técnica e a visão gestáltica profunda de Sacilotto compõem essas peças cinéticas, as mais extraordinárias já vistas nessa tendência artística, embora ele próprio trabalhe nela já algumas décadas. O movimento cadenciado das formas, a velocidade das linhas e a vibração das cores montam um universo infinito de sensações visuais, criado pelo artista em função da sensibilidade ótica do espectador.

O artista concretiza com as obras do Panorama: o êxtase, o significado total da criação. Essas pinturas adquirem elas próprias uma individualidade tão contundente que poderiam afastar a fatalidade de sua relação com o homem e o universo. Elas ocupam um posto especial na ordem geral das coisas: elas se apropriam de um espaço para existirem como entidades únicas. Passaram pela mão do artista e se fecundaram no universo mas têm identidade própria: são obras de arte.