Luiz Sacilotto foi um artista plástico de produção ímpar, tanto que seu nome figura entre os mais importantes da história da arte brasileira do século XX. Nasceu em Santo André, em 1924, cidade na qual viveu até a morte, há uma semana, aos 78 anos. Filho de imigrantes italianos, dedicou-se à produção artística por mais de seis décadas.
Em 1952, ele, Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros, Kazmer Fejer, Lothar Charoux, Leopoldo Haar e Anatol Wladyslaw (o único ainda vivo) lançaram a mostra e o manifesto do grupo Ruptura, no MAM-SP (Museu de Arte Moderna), evento que marcou o início do concretismo no Brasil.
No que diz respeito à importância para o desenvolvimento da arte nacional, muitos especialistas comparam o movimento concretista com a Semana de Arte Moderna de 22, colocando os dois em patamares similares.
Sacilotto foi figurativo no início de sua vasta e produtiva trajetória. Desde o Ruptura, dedicou-se para sempre ao concretismo: obras moduladas criadas a partir de elementos geométricos e matematicamente elaboradas. Foi o único deles que permaneceu fiel ao estilo que ajudou a desenvolver.
Triângulos, quadrados e círculos brotaram de suas mãos e foram criteriosamente dispostos no plano da tela, elementos geométricos que ganharam vida com Sacilotto. Quem vê suas obras tem a impressão de que elas se movimentam, sozinhas, dado o rigor matemático da composição que cria ilusões de óptica. Assim, seu trabalho realizado em suporte plano parece tridimensional.
O pintor e escultor ousou naquele anos 50 ao criar composições que não agradaram a muita gente, conservadores que gostavam de paisagens e retratos, por exemplo. Sacilotto gostava de triângulos. “O concretismo está por todos os lados. As faixas de pedestres, os portões das casas, tudo é concretismo”, costumava dizer.
Além de grande artista, foi um intelectual de formação humanista. Gostava de gente. Ficava emocionado com as crianças que visitavam seu ateliê. Adorava falar de obras suas que foram reproduzidas em relevo para que portadores de deficiência visual pudessem apreciá-las, com as mãos.
Mestre da composição, das formas, dos volumes e das cores, Sacilotto deixou o mundo e muitas saudades. O Diário convidou quatro amigos e especialistas em sua obra para escrever sobre o artista.
Os convidados – a artista Paula Caetano, o crítico Enock Sacramento e as professoras universitárias Nancy Betts e Elisabeth Leone – escreveram também sobre o ser humano Sacilotto, homem cheio de virtudes, mas também ácido, quando algo não o agradava.