Correndo riscos
Em 2000 o Espaço de Artes Unicid (Universidade Cidade de São Paulo) recebeu a proposta do crítico Enock Sacramento para expor a Obra Gravada Completa de Luiz Sacilotto, com 35 gravuras. Como curadora do Espaço, propus a ampliação do projeto e a adequação para o público chamado especial: portadores de deficiências físicas e sensoriais. O maior desafio foi pensar nos deficientes visuais, porém quis tentar uma aventura fora da norma, “correr riscos”.
Não estava só. Sacilotto não apenas concordou como esteve disponível todo tempo. Foi generoso, tornando tudo possível. Para a realização da mostra, visitei seu ateliê diversas vezes. Certa vez trouxe o artista até minha casa, em São Paulo, e registrei por escrito a breve entrevista, feita em agosto de 2000:
“Elisabeth: O que o senhor acha de adequar uma exposição, no caso a sua, para o público especial?”
“Sacilotto: Excelente, por incrível que possa parecer. Não conhecia este tipo de atuação. Só tive o primeiro contato agora, mas o alcance disso é muito grande.”
“Elisabeth: Sua obra é baseada em ´pura visibilidade´. Ao fazermos réplicas de seus trabalhos, eles não serão mais os mesmos, pois perderão a aura original. O senhor concorda com isso?”
“Sacilotto: Isso não fere a obra do artista, muito pelo contrário. Fará com que outros que até então não teriam a oportunidade de conhecer meu trabalho o façam agora. Não há impedimento algum. Não há duas pessoas que enxerguem a mesma coisa da mesma maneira, mesmo entre os que têm visão normal.”
“Elisabeth: Tenho a intenção de ampliar a exposição acrescentando as réplicas de suas esculturas, relevos táteis, dobraduras e elaborando um material lúdico a ser utilizado por visitantes em um ateliê montado para isso, tudo baseado em seu trabalho.”
“Sacilotto: Faça o que achar conveniente. Para mim, vale tudo. Não no sentido pejorativo, mas no esforço da comunicação. Isto será uma aventura.”
Foi uma grande aventura, tanto que o ateliê foi chamado de Uma Aventura com Sacilotto. Nos dois meses que a mostra esteve na Unicid, ele participou da maior parte das visitas feitas pelos deficientes visuais. Vibrava e sentia-se emocionado por ver seu trabalho ser sentido via comunicação tátil.
Sacilotto deixa suas obras e nos faz entender o significado da palavra cultura, que abrange comunicação para todos, respeitando as diferenças. Em 2001 a mostra esteve em Santo André e no Sesc São Carlos (SP). Há um convite do Sesc de São Luís (MA).
Elisabeth Leone é curadora do Espaço de Artes Unicid.