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FELIPE CHAIMOVICH – TEXTO PUBLICADO NO FOLHA DE SÃO PAULO, 13/02/2003

Sacilotto foi a alinça entre o modernismo e a industrialização

Luiz Sacilotto (1924-2003) foi o artista do ABC. Representa a aliança entre o modernismo do pós-guerra e a industrialização de São Paulo, tendo produzido obras exemplares para a contemporaneidade nacional.

Sacilotto nasceu em Santo André, em 1924. Filho de imigrantes italianos, estudou no Instituto Profissional Masculino do Brás.

Em 1944, passou a trabalhar na Hollerith como desenhista de letras de alta precisão. Tal experiência com o design o coloca a par das discussões ligadas à herança da Bauhaus, já que era o momento em que se articulavam a Escola de Ulm, na Alemanha, e a revolução tipográfica suíça.

Contudo, a pintura do jovem artista ainda se filiava ao expressionismo. Junto com os colegas do Instituto Profissional, Marcelo Grassman e Otávio Araújo, mais Carlos Scliar, integra a coletiva “Quatro Novíssimos”, no Instituto dos Arquitetos do Rio, em 1946.

O viés político de Sacilotto é visível desde então. Em 1944, o crítico Sérgio Milliet chama a ele e aos colegas de “artistas proletários”, aproximando-os ideologicamente do grupo Santa Helena.

Waldemar Cordeiro apontaria os destinos que caracterizam a produção mais conhecida de Sacilotto: a abstração construtiva. Cordeiro estimulou o amigo a aproximar-se da geometria como símbolo da linguagem universal. Entre 1947 e 1950, o pintor de Santo André testou a crescente geometrização de fundos e figuras, mesmo mantendo o colorido e as pinceladas expressionistas.

A abstração brasileira começava a ganhar corpo entre Rio e São Paulo, após 1947. Engajado nas transformações, Sacilotto abraça definitivamente tal estética a partir de 1950, somando a prática escultórica à pintura. Participou da primeira Bienal de São Paulo no ano seguinte.

Em 1952 viria o grande marco do movimento concretista: a mostra do Grupo Ruptura toma conta do nascente Museu de Arte Moderna paulistano, unindo Sacilotto a Charroux, Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros, Fejer, Haar e Wladyslaw. Juntos assinaram um manifesto em defesa de uma arte como “meio de conhecimento deduzível de conceitos, pondo-a acima da opinião”.

A experiência profissional com gráfica forneceu a Sacilotto um repertório coeso. Desde 1954, chamou todas suas obras, fossem quadros ou esculturas, de “Concreção”, indicando ainda o ano de fabricação e o número de série.

Sacilotto testemunhou a solidez de uma carreira regulada pelo rigor compositivo derivado da geometria e da gráfica. Sua obra ecoa um projeto de modernização do Brasil indissociável da indústria paulista e da educação pela arte.