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OLÍVIO TAVARES DE ARAÚJO “COM O RIGOR DA GEOMETRIA” – REVISTA ISTOÉ, ABRIL/1988

Um dos movimentos intelectuais mais badalados da cultura brasileira – e que deixou saldos duradouros – foi o da arte concreta, oficialmente lançado em São Paulo em 1956, com uma exposição da qual participavam pintores, escultores e poetas. Sob certos ângulos, o concretismo só é comparável à Semana de 22, organizada e articulada, como ele, com propósitos e ideologias de reformar – se não arrebentar – a arte feita até então. Mas vê-se, hoje, que a história da arte não pode ser dinamitada a cada instante. “A pintura está morta”, declarou na década de 40 o americano Jackson Pollock, pai da action-painting. Entretanto, nada mais vivo que a pintura, hoje. Da mesma forma, a arte pela qual batalhavam os concretistas, feita com inteligência, com um projeto, antiemocional, antiexpressiva (mas não anti-sensível), não acabou. Os movimentos artísticos se fazem por idas e vindas, por ciclos, por antíteses, e por isso a arte sobrevive a qualquer transe.

Quando se fala dos pintores concretos brasileiros, três são os nomes que logo vem à cabeça: Waldemar Cordeiro (que teorizou e liderou o movimento), Hermelindo Fiaminghi e Luiz Sacilotto, cujos trabalhos ficam em exposição até o dia 10 de maio na Galeria Millan, em São Paulo. Cordeiro morreu, mas os outros dois continuam a produzir. Curiosamente – talvez o menos intelectualizado do grupo – é o que continuou mais ortodoxo. Realiza uma geometria rigorosa, ligada a problemas abstratos de teoria da percepção e da gestalt, discutindo efeitos ópticos, jogos entre forma e fundo, ambiguidade de planos, e assim por diante. Sem ser propriamente fria – até porque a pessoa de Sacilotto é ameníssima, carinhosa, envolvente -,
trata-se de uma pintura em que a cabeça se envolve mais que o coração. Mas o próprio Sacilotto assegura: “A intuição está em primeiro lugar”. Isto é: nem ele acredita em regras fixadas a priori.

Nascido em 1924 em Santo André, na Grande São Paulo, filho de imigrantes italianos, Sacilotto leva a mesma vida simples até hoje – apenas mais confortável, porque a historicidade já valorizou seus trabalhos no mercado (em torno de 400 mil cruzados o metro quadrado). De sua coleção particular em Santo André, trouxe para esta exposição alguns quadros antiquíssimos, dos fins dos anos 40. Sem a transformar em retrospectiva, eles permitem releituras e conclusões. Uma delas, sem dúvida, é o pioneirismo de Sacilotto na implantação da abstração geométrica no Brasil. Outra é a confirmação de sua importância. A terceira – que vem do conjunto – é a convicção que hoje Sacilotto ousa enunciar: “Eu sempre achei que uma obra tem que ter beleza. Apenas precisamos ter cuidado com a palavra ‘expressivo’. Uma obra não exprime. Ela é”.