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JACOPO CRIVELLI VISCONTI – 2016 – TEXTO DA PÁG. 25 DO CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO ‘SACILOTTO EM RESSONÂNCIA’ – INSTITUTO DE ARTE CONTEMPORÂNEA, SÃO PAULO

Entre os artistas do grupo concreto, Sacilotto foi provavelmente o que mais criteriosamente escolhia ou produzia suas tintas. No ateliê em Santo André, ainda está a estante onde o artista guardava, perfeita e cuidadosamente catalogados, centenas de potes de pigmentos, alguns adquiridos nos mais diversos lugares do mundo, outros processados artesanalmente por ele. De fato, Sacilotto já era um colorista muito refinado na fase expressionista, mas essa característica do seu trabalho é menos evidente nas obras do período concreto, por conta da organização econômica da estrutura das telas. Contudo, a escolha precisa das cores volta a ser central em sua produção posterior, permitindo uma aproximação com a prática de pintores que se poderiam considerar mais “convencionais”. O caso de Alfredo Volpi é paradigmático: apesar de ter participado da 1a Exposição Nacional de Arte Concreta, em 1957, Volpi nunca compartilhou a aspiração tipicamente concretista a uma produção quase mecanizada, perfeitamente caracterizada, nesse sentido, pelo uso de tintas industriais. Se, como vimos, Sacilotto é considerado por muitos o artista concreto por excelência, sua fascinação, estudo e experimentação constantes com as nuances do universo cromático não podem, por outro lado, ser considerados contraditórios. No contexto fabril do ABC paulista onde ele nasceu, se criou e viveu praticamente a vida toda, e que pela presença ineludível da indústria pode ser considerado, de certa maneira, o contexto natural do movimento concreto, a manualidade era generalizada. Assim como parece “natural” que as primeiras esculturas de Sacilotto tenham sido feitas com sobras e retalhos de chapas metálicas conseguidas na empresa onde trabalhava, é normal também que ele mesmo preparasse suas cores. Nesse sentido, sua obra não seria nem um “desvio” desse mundo fabril e operário, do qual representaria aliás uma expressão perfeitamente coerente, nem uma distorção da matriz industrial do universo concretista. E, aprofundando tanto essas considerações quanto a comparação aparentemente forçada com o trabalho de Volpi, é interessante notar que, embora em momentos distintos, ambos os artistas estudaram no Instituto Profissionalizante Masculino do Brás e depois trabalharam muito tempo no campo expandido das artes aplicadas. Em outras palavras, é como se, num país de industrialização ainda incipiente como o Brasil dos anos 1940-50, o caráter artesanal fosse indissociável da produção artística, mesmo da que com mais interesse olhava para as transformações da sociedade, querendo que elas alcançassem também o próprio universo artístico.