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MÁRIO PEDROSA, “PAULISTAS E CARIOCAS”, JORNAL DO BRASIL, RIO DE JANEIRO, 1957

Sacilotto na sua magnífica Concreção não sei quanto (a dos triângulos pretos, em séries horizontais paralelas, em relevo, sobre fundo branco, placa de alumínio) nos dá excelente realização de sua ideia, fundada na ambivalência perceptiva em que os triângulos pretos, de formas fechadas fortíssimas, de repente deixam o fundo branco tomar a frente, numa série e triângulos visuais que agem como se fossem as sombras virtuais das séries negras. O branco ganha com isso uma virtualidade inesperada, e o jogo cativante da visualidade continua a alterar-se indefinidamente. Nesta realização as figuras escapam às limitações quantitativas da geometria métrica, isto é, os triângulos não dependem nem do tamanho, nem mesmo de sua forma rígida: suas propriedades fundamentais passam a depender, sobretudo, da posição geral das linhas e pontos onde se encontram, e daí crescerem, moverem-se eles, à medida que o olhar passeia por suas séries.